O processo de escolarização de crianças surdas no Ensino Fundamental: um olhar para o ensino de ciências articulado aos fundamentos da astronomia

FERREIRA, Alessandra Bueno
O processo de escolarização de crianças surdas no Ensino Fundamental: um olhar para o ensino de ciências articulado aos fundamentos da astronomia
Bauru/SP, Universidade Estadual Paulista, UNESP, 2015. 129p. Dissertação de Mestrado. (Orientador: Eder Pires de Camargo).

Resumo Esta pesquisa procurou investigar como ocorre o processo de escolarização de crianças com perdas auditivas nos anos iniciais do ensino fundamental. A investigação pretendeu analisar como determinados conceitos científicos são desenvolvidos pelo professor em aulas de ciências naturais, considerando-se as necessidades educacionais dos alunos com surdez. Buscamos a reflexão dos seguintes questionamentos: O que acontece quando determinados conceitos científicos cruciais não são desenvolvidos em sala de aula? Quais as possibilidades e limitações para o desenvolvimento e apreensão do conceito fases da Lua para os alunos com perdas auditivas? Considerando as particularidades e necessidades educacionais desses alunos, qual o potencial pedagógico do uso de recursos diferenciados em sala de aula? Para Vigotski o processo de desenvolvimento dos conceitos ou significados das palavras demanda o desenvolvimento de toda uma série de funções, como a atenção arbitrária, a memória lógica, a abstração e a discriminação, e todos esses psicológicos complexos não podem simplesmente ser memorizados ou assimilados. Logo, sem palavra não há formulação de conceitos. Isso evidencia que, o ensino direto de conceitos se mostra inviável e pedagogicamente limitado. Seguindo esta linha de pensamento, o presente trabalho teve como objetivo principal, investigar o acesso de alunos com surdez ao conhecimento científico em aulas de ciências naturais, articuladas aos princípios da astronomia. Como objetivos específicos, pretendeu-se analisar os processos de interação dos alunos com perdas auditivas em sala de aula, sobretudo durante a atividade pedagógica mediada pela pesquisadora e pelos dois professores da área de Física. Além disso, buscou-se examinar as possibilidades e limitações para a construção do conceito fases da Lua para essas crianças. A fundamentação teórica que subsidiou a análise e interpretação dos dados constituídos está organizada da seguinte forma: O primeiro capítulo faz referência a alguns recortes específicos a respeito da educação especial e da educação dos surdos. O segundo capítulo apresenta alguns dos principais conceitos elaborados por Vigotski, no que se refere à defectologia, aos sistemas psicológicos, formação de conceitos, e a mediação na intencionalidade educativa. O terceiro capítulo expõe os referenciais teóricos que tratam do ensino de ciências naturais articulado aos princípios da astronomia como possibilidade de alfabetização e letramento científico. O trabalho, predominantemente qualitativo, segue com o quarto capítulo, de cunho metodológico, apresenta-se o percurso e o contexto da pesquisa, que consistem na caracterização do local e dos participantes; descrição dos materiais e instrumentos utilizados; procedimentos da pesquisa em campo; objetivos, campo conceitual e procedimentos da atividade pedagógica sobre as fases da Lua; e os procedimentos de análise dos dados constituídos. Na sequência, encontra-se o quinto capítulo, no qual são apresentados e analisados os resultados constituídos, organizados em três itens: Primeiramente, é exposta uma descrição geral baseada na análise dos relatos do diário de campo, das duas escolas participantes. A intenção é focalizar situações de interação dos alunos em sala de aula, com destaque para as crianças com perdas auditivas. Na segunda parte, é feito uma análise da atividade pedagógica organizada, a partir da qual foram discutidas as possibilidades e limitações para a construção do conceito fases da Lua. A ênfase é dada nos momentos de intenção de participação dos alunos com perdas auditivas na atividade desenvolvida, tal como nas situações em que esses alunos dispersaram sua atenção para outros pontos de observação da sala de aula. Em seguida, o terceiro item trata da análise das entrevistas com os dois alunos com perdas auditivas, buscou-se retomar a fundamentação teórica exposta nos referenciais sobre formação de conceitos. Finalmente, o sexto capítulo expõe as considerações finais do estudo, que apontam para a necessidade de alterações no atual paradigma da educação de surdos no Brasil. Destacamos a necessidade da implantação de práticas inclusivas que orientem uma educação bilíngue para os surdos. Independente da abordagem comunicativa utilizada pelos alunos com surdez, seja ela oral ou gestual, o processo educativo deve garantir a essas crianças um ensino que contemple suas necessidades comunicativas e pedagógicas.