FERREIRA, Flávia Polati
A forma e os movimentos dos planetas no Sistema Solar: uma proposta para a formação do professor de Ciências em Astronomia
São Paulo/SP, Universidade de São Paulo, USP, 2013. 190p. Dissertação de Mestrado. (Orientador: Cristina Leite).
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Resumo |
O Sistema Solar é um dos temas da Astronomia mais abordados em sala de aula por professores de Ciências. Reconhecendo sua importância, nesta pesquisa buscamos investigar uma proposta de ensino-aprendizagem no tema "A forma e os movimentos dos planetas no Sistema Solar", que teve como eixo central a relação entre a observação cotidiana e os modelos científicos atualmente aceitos. Para ajudar na construção dessa proposta, analisamos os Cadernos de Ciências da Proposta Curricular do Estado de São Paulo e as teses e dissertações produzidas no Brasil nas últimas décadas, procurando investigar como estes materiais propõem atividades para o ensino-aprendizagem de conceitos de astronomia. Dialogamos com as ideias de Paulo Freire ao refletir sobre os significados da problematização, do diálogo, da atividade de Extensão Universitária e da importância da formação de sujeitos críticos para compreender o mundo que os cercam. Construímos uma proposta de ensino-aprendizagem com 12 atividades estruturadas a partir da metodologia dos Três Momentos Pedagógicos e realizamos intervenções em um curso para a formação de professores, com o caráter de extensão universitária, oferecido pela Universidade de São Paulo. O objetivo da proposta elaborada foi desenvolver o senso crítico ao relacionar a observação cotidiana com os modelos científicos atualmente aceitos, que geralmente são ensinados em sala de aula. Os dados obtidos na aplicação desta proposta foram analisados com base em três grandes categorias gerais que tinham como focos principais avaliar a percepção das limitações da observação imediata e ingênua e a contradição entre esta e o modelo científico. Os resultados parecem indicar que uma parte dos professores não percebeu a contradição aparente entre a forma da Terra observada no cotidiano e a forma descrita no modelo. Os que percebiam, forneciam argumentos com base em noções de referencial e de escalas e proporção. Embora metade dos professores de nossa amostra tenha percebido esta contradição, a maior parte deles não consegue explicar esta percepção com argumentos científicos ou astronômicos. Na problematização dos movimentos observáveis, todos os professores perceberam a contradição aparente entre o movimento do Sol e os movimentos da Terra aceitos atualmente no modelo. Ainda que apresentassem muitas dificuldades em justificar as razões disso, os professores usaram noções de observação de outros astros e planetas para justificar o modelo. Ao final do curso, percebemos que os professores apresentaram nos debates do tipo Júri Simulado uma série de argumentos trabalhados ao longo do curso, o que parece indicar que, após as atividades, eles passaram a argumentar de maneira menos ingênua sobre as relações entre a observação cotidiana e o modelo. Embora reconheçamos as limitações da proposta apresentada, esta parece se mostrar uma alternativa de grande potencial para intervenções na formação de professores que busquem trabalhar além do conhecimento presente nos materiais didáticos, promovendo um diálogo constante entre o conhecimento astronômico e os aspectos vivenciáveis no cotidiano.
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