SILVA, Giovana Massaretto da
Astrônomos e apóstolos: um estudo da cultura científica jesuítica entre os séculos XVII e XVIII
São Paulo/SP, Universidade de São Paulo, USP, 2016. 129p. Dissertação de Mestrado. (Orientador: Thomás Augusto Santoro Haddad).
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Resumo |
De meados do século XVI a meados do XVIII, a Companhia de Jesus foi, sob diversos
aspectos, a ordem religiosa católica de maior influência no mundo. Seus milhares de
membros, espalhados pela maior parte do planeta (junto com as outras forças do colonialismo
europeu, ou mesmo antes delas), viam-se e eram vistos como indivíduos e integrantes de uma
corporação marcadamente distintos do resto do clero. A identidade jesuítica, constitutiva do
elevado grau de autonomia relativa da ordem no campo religioso maior, era forjada, em
grande medida, nos processos de formação dos futuros religiosos, que ocorriam em uma
notável rede de colégios da Companhia (nos quais também recebiam inúmeros estudantes que
não aspiravam ao sacerdócio, mas eram igualmente expostos ao “modo de proceder” dos
jesuítas). Neste trabalho, buscamos indícios do funcionamento específico desse sistema de
socialização cultural, no contexto do Colégio Jesuíta de Santo Antão de Lisboa, e, mais
particularmente, em sua notória “Aula da Esfera”. Para tal, analisamos dois cadernos
manuscritos que contêm anotações feitas por estudantes das aulas ministradas pelos padres
Cristoforo Borri, em 1627, e Inácio Vieira, em 1709. Sustentamos que esses documentos dão
sinais da existência de uma matriz cultural que, internalizada, predispunha os jesuítas a
realizarem suas escolhas e, mais do que isso, moldava uma forma de pensar e ver o mundo.
Nos cadernos, a especificidade jesuítica se torna presente quando se identifica a presença
constante de atitudes epistemológicas e técnicas pedagógicas típicas da escolástica, sistema
que jamais caiu em descrédito na Companhia, mesmo com os ataques crescentes e
irreversíveis que sofreu ao longo do século XVII.
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Palavras-chave |
Portugal (1540-1709), Companhia de Jesus, Colégio de Santo Antão – Aula da Esfera, Cosmologia, Identidade e socialização.
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Abstract |
From the mid-16th to the mid-18th centuries, the Society of Jesus was, under several
perspectives, the most influential Roman Catholic religious order in the world. Its thousands
of members, scattered over most of the globe (side by side with other agentes of European
colonialism, and at times long before their arrival), saw themselves and were seen by others as
individuals and members of a corporation markedly distinct from the rest of the clergy. Jesuit
identity, constitutive of the high level of relative autonomy of the order inside the larger
religious field, was to a great extent forged in the formative processes of future professed
members, which took place in a remarkable network of colleges of the Society of Jesus
(colleges that also had a huge number of students not destined to priesthood or religious life,
but who were nevertheless equally exposed to “the way of proceeding” of the order). In this
work, we look for signals of the specific workings of this system of cultural socialization, in
the context of the Jesuit College of Santo Antão of Lisbon, particularly in its notorious “Aula
da Esfera” (the cosmography and mathematics class). To this end, we analyze two manuscript
notebooks containing student notes of the classes given by fathers Critoforo Borri in 1627,
and Inácio Vieira in 1709. We sustain that these documents indicate the existence of a cultural
matrix that, when internalized, predisposed Jesuits to make their choices and, more than that,
shaped a way of thinking and seeing the world. In the notebooks, Jesuit specificity is present
when we take notice of the constant presence of epistemological attitudes and pedagogical
techniques typical of Scholasticism, a system that never fell off favor in the Society of Jesus
even with the mounting, irreversible attacks that Scholasticism suffered during the 17th
century.
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Keywords |
Portugal (1540-1709), Society of Jesus, College of Santo Antão – Aula da Esfera, Cosmology, Identity and socialization.
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Nível |
Mestrado
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