CARNEIRO, Dalira Lúcia Cunha Maradei
Divulgação científica: as representações sociais de pesquisadores brasileiros que atuam no campo da astronomia
Uberlândia/MG, Universidade Federal de Uberlândia, UFU, 2014. 171p. Tese de Doutorado. (Orientador: Marcos Daniel Longhini).
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Resumo |
A divulgação científica tem função inconteste na intermediação entre ciência e sociedade e é um campo fértil de investigação na educação, considerando que a construção do conhecimento flui em diferentes espaços, e, consequentemente, produz e dissemina representações. Apresenta-se como terreno motivador à reflexão e como ferramenta necessária para impedir que o conhecimento não seja sinônimo de dominação e poder. Nesse prisma, a Astronomia assume papel relevante como desencadeadora do processo de divulgação científica, devido ao seu caráter interdisciplinar. Sob esse olhar e à luz do referencial teórico-metodológico da Teoria das Representações Sociais (TRS), fundamentada por Serge Moscovici, esta pesquisa, de natureza qualitativa, buscou responder: Quais as representações sociais sobre divulgação científica de pesquisadores brasileiros que atuam no campo da Astronomia? O trabalho teve como base a pesquisa de Longhini, Gomide e Fernandes (2013), que mapearem a comunidade científica brasileira envolvida com a Astronomia, identificando dois grupos de pesquisadores com diferentes trajetórias formativas: um com pós-graduação em Educação e áreas afins e outro com pós-graduação em Física ou Astronomia. Assim, este estudo teve como subquestão: Os pesquisadores desses grupos têm concepções diferenciadas sobre as práticas da divulgação científica? Foi composta uma amostra de seis sujeitos, sendo três de cada trajetória formativa, que participaram de entrevistas semiestruturadas analisadas conforme os passos sugeridos por Spink (2012). Os resultados mostram que a divulgação científica faz parte da agenda dos pesquisadores, com uma representação positiva em relação a divulgar conhecimento científico à população e similar na abordagem prática entre os dois grupos. Apontam para duas representações sociais da divulgação científica: uma para sociedade em geral, movida pela paixão, ancorada em valores e crenças, na satisfação de ver os resultados que suas ações trazem à vida das pessoas; e outra para os seus pares. No que tange à primeira, âmago deste trabalho, emergem lacunas que obstaculizam a prática da divulgação científica, como a falta de profissionalização e a dificuldade de utilizar linguagem acessível ao público leigo; a falta, até então, de valorização da área e a burocracia exigida na execução de projetos, advinda das instituições e agências de fomento, e a representação negativa sobre a mídia, em geral, somam-se à lista dos obstáculos, inferindo-se que a divulgação científica é um paradigma em construção. Outras considerações são que a Astronomia não faz parte de forma sistemática do ensino básico e nem da mídia em geral e, não raro, nesses âmbitos, essa ciência apresenta-se com erros conceituais. E que existe uma intersecção entre a educação científica e a divulgação científica, sendo que o pesquisador deve se aproximar dos professores do ensino básico e da população. Há a indicação de se expandir espaços não formais de educação e da criação de uma política específica para a Astronomia. Em suma, as representações ora encontradas ponderam algumas das preocupações presentes atualmente na sociedade e que encontram eco no corpo teórico deste trabalho, demonstrando que, no Brasil, apesar dos avanços, de modo em geral, a divulgação científica, a educação em ciências e, especificamente, a Educação em Astronomia, encontram-se num contexto de fragilidade social.
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