KANTOR, Carlos Aparecido
Educação em Astronomia sob uma perspectiva humanístico-científica: a compreensão do céu como espelho da evolução cultural
São Paulo/SP, Universidade de São Paulo, USP, 2012. 141p. Tese de Doutorado. (Orientador: Luis Carlos de Menezes).
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Resumo |
A pouca presença da Astronomia na Educação Básica tem a ver com um pragmatismo não estritamente brasileiro nem tão recente. Ela, que era um dos quatro componentes do quadrivium da educação medieval, foi gradualmente banida dos currículos oficiais e, por largo tempo, esteve ausente na educação básica brasileira, exceto pela apresentação de seus aspectos básicos em disciplinas como Geografia e Ciências no Ensino Fundamental. Recentemente, no entanto, as regulamentações oficiais, tanto na esfera federal quanto nas estaduais, indicam que temas de astronomia devem ser contemplados na Educação Básica nacional. Em oposição à falta de material pedagógico adequado para desenvolver esses temas na educação formal, a popularização da Astronomia encontra nos planetários um ambiente rico e promissor. Um olhar mais amplo sobre as relações que povos de todas as épocas tiveram com o céu revela que elas são indissociáveis dos valores e visões de mundo que cada civilização desenvolveu. Conhecer o céu era necessário não só por razões de sobrevivência, para determinar as épocas de chuvas e estiagem com objetivos agrícolas, mas também para identificar nas configurações dos astros respostas para o destino humano. Os mitos de criação do mundo e os astros vistos como deuses foram personagens centrais de muitas culturas e, de inúmeras maneiras, continuam presentes em nossos dias, mais frequentemente por conta de convicções religiosas, mas também pela percepção mítica dos modelos cosmológicos contemporâneos de base científica. A evolução da Astronomia como ciência se deu inicialmente em linha de continuidade com as percepções de regularidade do céu de práticas religiosas e protocientíficas. Quando a Astronomia se apresentou científica, já contava com milênios de observação e na sua evolução, muitas vezes, estiveram presentes aspectos não racionais do ponto de vista científico. No presente trabalho, por meio de pesquisa bibliográfica, buscamos indicar uma linha de ação que auxilie na superação do pragmatismo na educação, utilizando a Astronomia como fio condutor. Baseado nas ideias de Eliade, Cassirer, Jafelice, entre outros, que apontam a forte ligação que o ser humano manteve com o céu durante sua evolução e mantém até hoje, propomos o desenvolvimento de temas de Astronomia na Educação Básica de uma forma centrada nas relações simbólicas que podem ser evocadas quando alguém é exposto a contato mais direto com as coisas do céu, em vez de explorar apenas o conhecimento objetivo e racional. Essa proposta, aliás, tem sido ensaiada com algum sucesso em exemplos relativamente isolados, mas demandaria um desenvolvimento mais amplo, em livros-texto e práticas escolares. Para avançar na direção pretendida, sugerimos a integração entre os recursos dos sistemas formais e não formais de educação, por exemplo, a utilização das sessões dos planetários como estímulo do estudo das Ciências da Natureza em geral e da Astronomia em particular.
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