SIMÓ, Kauê Dalla Vecchia
O ensino de Astronomia nos livros didáticos de Cosmografia do início do século XX
São Paulo/SP, Universidade de São Paulo, USP, 2016. 160p. Dissertação de Mestrado. (Orientador: Yassuko Hosoume).
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Resumo |
Tendo como referência o entendimento de que o ensino da Astronomia, de alguma forma, sempre esteve presente na história da educação básica brasileira, ora como uma disciplina independente, ora compartilhado com os conteúdos de outras disciplinas, é analisado o seu ensino no Brasil do início do século XX a partir de livros didáticos de Cosmografia desse período. Compreendendo o livro didático como uma fonte de estudos privilegiada da história das disciplinas, são analisados nove livros didáticos de Cosmografia dos anos de 1897 a 1933 de diferentes autores. A análise está estruturada em duas etapas: na primeira, são identificados e caracterizados, ao longo do tempo, os conteúdos da Astronomia presentes nos livros. Para isso, utilizou-se as categorias de análise: Observação da superfície da Terra; Fenômenos cíclicos; Sistema Solar; Terra; Atração Gravitacional; Universo; e História e Cultura. A partir da identificação e da categorização dos conteúdos, constatou-se a presença de uma vasta quantidade de temas da Astronomia em cada uma das categorias, principalmente os relativos à Fenômenos cíclicos, Sistema Solar, Atração Gravitacional e Universo. A forte presença de temas ligados à essas categorias indica uma certa continuidade no tempo, além da importância atribuída no ensino desses conteúdos na educação básica daquela época. Por outro lado, temas como métodos de observação dos astros no céu, correções de observação, periodicidade das estrelas no céu, orientação na superfície terrestre e história da Astronomia estão presentes em alguns livros e ausentes em outros, indicando uma não linearidade na evolução temporal no ensino desses conteúdos. Na segunda etapa, é aprofundada a análise dos conteúdos abordados nas categorias presentes em todos os livros didáticos e dela observou-se uma grande ênfase na caracterização de conteúdos como esfera celeste, coordenadas esféricas, instrumentos óticos, movimentos da Terra, dia e noite, estações do ano, fases da Lua, eclipses, constituição e dinâmica do Sistema Solar, forma e dimensões da Terra, estrelas, constelações, nebulosas e modelos cosmogônicos de universo. De suas caracterizações, constatou-se que os conceitos de Astronomia eram desenvolvidos numa perspectiva de se descrever detalhadamente os objetos e os fenômenos que constituíam o universo observável daquela época, o qual restringia-se aos corpos constituintes do Sistema Solar e alguns elementos situados além desse, como, por exemplo, estrelas, nebulosas e constelações. Embora a relação entre as descobertas científicas e os conteúdos didáticos guardasse atualidade, como a presença de Plutão, descoberto em 1930, e o número de satélites dos planetas no estudo do Sistema Solar, foi possível inferir que a visão de universo no período estudado limitava-se a ideia de um universo fechado, finito, esférico e composto pela Via Látea com suas estrelas e nebulosas, ainda que descobertas, como as galáxias, na década de 1920, indicassem um universo muito além da Via Lactea. Os resultados mostram que, no período em estudo, a importância atribuída ao ensino da Astronomia na educação básica era bastante diferente daquela que é atribuída atualmente, haja vista a identificação de uma disciplina específica, a quantidade significativa de livros de Cosmografia de autores brasileiros, bem como a quantidade e o aprofundamento no desenvolvimento dos conteúdos da Astronomia presentes neles.
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