Trajetória da Astronomia na legislação educacional e nos livros didáticos da instrução primária do oitocentos brasileiro

OLIVEIRA, Elrismar Auxiliadora Gomes
Trajetória da Astronomia na legislação educacional e nos livros didáticos da instrução primária do oitocentos brasileiro
São Paulo/SP, Universidade de São Paulo, USP, 2017. 314p. Tese de Doutorado. (Orientador: Cristina Leite).

Resumo Procurando contribuir com a história do ensino de Astronomia e também das disciplinas escolares, procura-se compreender a trajetória da Astronomia como matéria escolar na instrução pública primária da segunda metade do oitocentos brasileiro, na Corte e no estado de São Paulo. Para tanto, elegeram-se como principais materiais de análise fontes primárias da legislação educacional e livros didáticos recomendados para instrução primária daquele período. Com base na legislação educacional, identificou-se a forma de organização do ensino desse período, como a divisão dos cursos, a idade e métodos de ensino. Tendo como aporte teórico os próprios métodos de ensino determinados no oitocentos, os livros didáticos e a legislação educacional também foram analisados na perspectiva de compreender as estratégias indicadas/utilizadas para o encaminhamento dos conteúdos de Astronomia. Além disso, procurou-se compreender fatores que podem ter influenciado o aparecimento da Astronomia como matéria escolar na instrução primária do oitocentos brasileiro. Os resultados da análise mostram que a Astronomia teve presença tanto na legislação educacional como nos livros didáticos, chegando a se constituir como matéria escolar principal da instrução pública primária da segunda metade do oitocentos brasileiro. Em relação aos conteúdos de Astronomia identificados, encontram-se temas relativos ao Universo, como modelos, estrelas, galáxias e nebulosas. No detalhamento dos conteúdos, chegou-se a identificar a discussão da possibilidade de existência de outros sistemas planetários. A Lei da gravitação universal aparece explicando a regularidade de movimentos no céu e equilíbrio dos corpos na superfície da Terra. Foram abordadas características da maior parte dos astros do sistema solar, como por exemplo, Sol, planetas, satélites, asteroides, cometas e meteoros. A maior parte dos fenômenos relacionados ao sistema Sol-Terra-Lua, como por exemplo, movimentos da Terra, dia e noite, estações, fases da Lua, eclipses e fases de planetas foram encontrados nos materiais analisados. Nos conteúdos relativos ao tema sistemas de coordenadas, aparecem coordenadas terrestres e celestes. Quanto às estratégias de abordagem dos conteúdos de Astronomia nos livros didáticos, identificaram-se três perspectivas. A primeira, segue o método catequético, apresentam-se os conceitos na forma de perguntas e respostas. Na segunda, os livros parecem indicar uma mudança de metodologia, negando o método catequético, denominou nesta tese de Catequético implícito, onde os livros retiram as perguntas e respostas, procurando construir uma narrativa seguida de exercícios. A terceira perspectiva, mostra uma nova tendência do final do oitocentos, o ensino ativo, encaminhado pelo método intuitivo, em que atividades de observação e experimentação se fazem presentes. O método adotado parece não definir ou limitar o encaminhamento que o autor dá aos conceitos. Tanto que a característica mnemônica atribuída ao método catequético parece ser mais evidente nos livros que estão no período de mudanças de metodologia encaminhando os conceitos por meio da narrativa. Os conteúdos de Astronomia estiveram presentes na instrução primária do oitocentos, aparentemente por diversas razões, porém, dentro dos limites dessa análise foi possível interpretar, algumas delas: a astronomia é uma ciência culturalmente importante; a entrada das ciências positivas nos programas de ensino e com elas a Astronomia, devido à influência da filosofia de Augusto Comte, principalmente no final do Império; e o caráter propedêutico, na força dos exames externos para entrada em cursos subsequentes.
Palavras-chave Física – estudo e ensino;Astronomia, Geografia – século XIX – Brasil, instrução primária, livros didáticos.